A casa de Ellison era, na verdade, mais parecida com uma vila, um complexo de casas de madeira elaboradamente modeladas a partir do palácio de um imperador japonês. A propriedade de 23 acres levou quase uma década para ser projetada e construída, incluindo um lago e uma cachoeira operada por um botão liga-desliga. Todos os edifícios foram construídos sem pregos e tinham paredes rebocadas com lama, projetadas para resistir a um terremoto de escala Richter de 7,3. No total, a homenagem de Ellison à cultura e história japonesas valeu cerca de US$ 70 milhões.
A conversa à mesa naquele dia foi sobre avaliações malucas da Internet no mercado de ações. Mas Masa e Jobs estavam mais interessados no que aconteceria depois da bolha pontocom. “Eu disse que estava focado na internet – e ele concordou que a internet era o futuro”, diz Masa. Ambos os homens perceberam que uma mudança de paradigma estava por vir. Os movimentos na Nasdaq eram uma coisa; o advento do mundo em rede, no qual a Apple desempenhou um papel de liderança como inovadora e o SoftBank como investidor e operador, foi outra completamente diferente.
A Apple era, naquela época, uma das empresas mais valiosas do mundo, com um conjunto de produtos de grande sucesso, desde laptops Mac até o iPod. Assim como Masa, Jobs era paranóico com a possibilidade de rivais roubarem suas ideias. Nenhum projeto da Apple era mais secreto do que o iPhone, o smartphone com tela sensível ao toque que venderia bilhões e revolucionaria as comunicações pessoais.
Pelo relato de Masa, em uma visita à Califórnia, em algum momento do verão de 2005, ele mostrou a Jobs seu próprio esboço de um iPod habilitado para dispositivos móveis, que tinha uma tela grande e usava o sistema operacional da Apple. O novo dispositivo, previu ele, seria capaz de processar dados e imagens. Jobs menosprezou a ideia, mas não resistiu a dar dicas sobre o iPhone.
Jobs: “Masa, não me venha com seu desenho de merda. Eu tenho o meu próprio.
Masa: “Bem, não preciso lhe dar meu pedaço de papel sujo, mas assim que você tiver seu produto, dê-me para o Japão.”
Jobs se recusou a revelar mais detalhes, mas Masa percebeu um sorriso no rosto do chefe da Apple. Depois de pressioná-lo ainda mais, Masa conseguiu uma reunião de acompanhamento na casa de campo em estilo Tudor de Jobs, em Palo Alto. Nessa reunião, afirma Masa, Jobs concordou, em princípio, em dar ao SoftBank direitos exclusivos para distribuir o iPhone no Japão. “Bem, Masa, você é louco”, disse Jobs. “Não conversamos com ninguém, mas você veio me ver primeiro. Eu vou dar para você.”
Nada foi escrito. Não houve discussão sobre preço ou volume. Apenas um acordo de cavalheiros, baseado na suposição de que Masa teria os recursos financeiros para construir ou adquirir um negócio de telefonia móvel. “Foi super confidencial. Nunca vi o produto antes de chegar ao Japão [in 2008]”, afirma Masa. “Steve nem me disse o nome.”
A história tem uma qualidade mítica. Supõe-se que Jobs deu sua palavra três anos antes de a Apple lançar o iPhone no Japão. No entanto, essa promessa pode muito bem ter dado a Masa a confiança necessária para comprar a Vodafone Japan, a empresa britânica que utilizou o ícone do futebol David Beckham na sua campanha de marketing. Este foi um negócio altamente alavancado – o maior até agora na Ásia – mas Masa apostou que tinha um produto revolucionário em preparação. Qualquer que seja a cronologia precisa, Masa conseguiu o acordo de distribuição do século, que lhe permitiu construir um negócio de consumo rentável no Japão, reforçando enormemente a marca SoftBank.
Em 17 de março de 2006, Masa fechou seu acordo de US$ 17 bilhões para comprar a Vodafone Japão. Duas semanas depois, Jobs voou para Tóquio, onde Masa desafiou o chefe da Apple a manter sua parte no acordo. “Você não me deu nada por escrito, mas fiz uma aposta de US$ 17 bilhões com base na sua palavra”, disse ele. “É melhor você sentir um pouquinho de responsabilidade.” Jobs riu e disse: “Masa, você é um cara maluco. Faremos o que discutimos.”